Brasília, criada em 1956, é Património Mundial desde 1987
Brasilienses saem em defesa da capital para proteger o tombamento da cidade
A participação da sociedade civil organizada foi preponderante para que a Unesco mandasse uma missão de avaliação à cidade. Nos últimos anos, líderes comunitários e associações de defesa do tombamento enviaram dossiês e denúncias à entidade e essa documentação serviu como embasamento para a visita à capital. Por conta disso, os consultores da Unesco decidiram valorizar o papel da sociedade na proteção do patrimônio e participaram de uma reunião para escutar as reclamações e dúvidas da comunidade. Ontem à tarde, o argentino Luís Maria Calvo e o espanhol Carlos Sambrício se encontraram com um grupo grande de brasilienses engajados na luta pela preservação do título de patrimônio da humanidade. A dupla saiu do evento, realizado na sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), munida de muitas informações para a elaboração do relatório final sobre a missão.
Moradores do Plano Piloto e de outras regiões do DF se mobilizaram para o encontro com os especialistas da Unesco. Foram convidados representantes de várias entidades, como associações, prefeituras de quadras, conselhos comunitários, representantes de universidades, como a UnB e a Católica, e de entidades da sociedade civil, como o Instituto dos Arquitetos do Brasil.
Mais cedo, Sambrício e Luís Calvo fizeram um longo sobrevoo de helicóptero sobre o Plano Piloto e também visualizaram do alto regiões vizinhas, como a cidade de Águas Lindas, em Goiás. Durante o passeio, puderam observar os impactos da expansão urbana na área tombada e se disseram “encantados” com o que viram. No início da tarde, os dois consultores da Unesco tiveram uma nova rodada de conversas com representantes do GDF. Depois, seguiram para o encontro com a comunidade.
O engajamento e o envolvimento de setores da população foram tão expressivos que um grupo de moradores da Asa Sul se reuniu ontem, bem cedo, na Esplanada dos Ministérios, para protestar contra as agressões ao tombamento. Com faixas saudando a chegada dos consultores da Unesco, eles também levaram cruzes feitas no formato do Plano Piloto. Cada uma trazia uma inscrição com problemas graves da cidade.
Irregularidades
Integrante do Conselho Comunitário da Asa Sul, Heliete Bastos participou da manifestação e também do encontro com os consultores da Unesco ontem à tarde. Ela levou para o encontro um vídeo produzido pelos conselheiros da entidade. Um grupo de moradores da Asa Sul filmou as irregularidades mais graves do Plano Piloto, como os puxadinhos e o abandono da avenida W3, e exibiu as imagens para os especialistas internacionais. “Desde a última visita da Unesco, em 2001, os problemas se agravaram demais. Levantamos também questões como o Veículo Leve Sobre Trilhos, já que o VLT virou um enigma para a comunidade”, justifica Heliete.
Em 2008, o Conselho Comunitário da Asa Sul enviou um dossiê volumoso para a Unesco. “Juntamos um calhamaço de papel com 25 centímetros de altura e mandamos tudo para o Centro de Patrimônio Mundial, em Paris. Sempre pedimos que a Unesco enviasse observadores a Brasília, essa é uma luta de quase uma década. Essa é uma vitória da sociedade”, acrescenta Heliete Bastos. Em coletiva realizada na última terça-feira, Luís Calvo e Carlos Sambrício afirmaram ter analisado toda essa documentação e afirmaram que os dossiês foram fundamentais para que se informassem da situação atual do Plano Piloto.
Moradora da 308 Sul, uma das únicas quadras tombadas individualmente em Brasília, Solange Madeira é engajada na preservação da cidade. Ela também participou da manifestação realizada ontem na Esplanada, com o objetivo de chamar a atenção dos especialistas estrangeiros. “Damos total apoio aos consultores da Unesco, mas somos totalmente contra Brasília perder o título de patrimônio mundial. Por isso, é preciso que o governo se dedique de forma efetiva para resolver os problemas existentes”, disse Solange Madeira, que trabalha como diretora de Preservação Histórica do Conselho Comunitário da Asa Sul.
Presença polêmica
O início da reunião no Iphan foi conturbado. O evento estava marcado para as 18h, mas Calvo e Sambrício chegaram 45 minutos atrasados. Logo depois, o secretário de Desenvolvimento Urbano e Habitação, Geraldo Magela, também apareceu para a reunião. Mas a presença do secretário causou rebuliço: alguns representantes da comunidade não aceitavam a participação de um integrante do governo e queriam que o evento fosse restrito aos representantes da sociedade civil. Pouco antes das 20h, depois de muita polêmica e debate, Magela e sua equipe deixaram o prédio do Iphan e o encontro, finalmente, começou.
Redação do DIARIODEPERNAMBUCO.COM.BR
15/03/2012
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